60 – Associações do treinamento resistido com doença cardiovascular: morbidade e mortalidade
Comentário: Prof. Dr. Milton Rocha de Moraes*
O treinamento resistido é eficiente e seguro para evitar e tratar várias doenças crônicas. O treinamento resistido é eficiente para evitar doenças cardiovasculares mesmo sem exercícios aeróbios.
Yanghui Liu1 , Duck-chul Lee2 , Yehua Li3 , Weicheng Zhu4 , Riquan Zhang1 , Xuemei Sui5 , Carl J. Lavie6 , and Steven N. Blair7
1Department of Statistics, East China Normal University, Shanghai, China; 2Department of Kinesiology, College of Human Sciences, Iowa State University, Ames, IA; 3Department of Statistics, University of California, Riverside, CA; 4Department of Statistics, Iowa State University, Ames, IA; 5Department of Exercise Science, Arnold School of Public Health, University of South Carolina, Columbia, SC; 6Department of Cardiovascular Diseases, John Ochsner Heart and Vascular Institute, Ochsner Clinical School, University of Queensland School of Medicine, New Orleans, LA; 7Departments of Exercise Science and Epidemiology/Biostatistics, Arnold School of Public Health, University of South Carolina, Columbia, SC Correspondence: Dr. Duck-chul Lee, Department of Kinesiology, College of H
Medicine & Science in Sports & Exercise, DOI: 0.1249/MSS.0000000000001822
A doença cardiovascular (DCV) é uma classe de doenças que afetam o coração ou os vasos sanguíneos. Entre estas doenças estão as doenças arteriais coronarianas, como a angina pectoris e o infarto agudo do miocárdio, os acidentes vasculares cerebrais, a cardiopatia hipertensiva, as miocardiopatias, arritmia cardíaca, a cardiopatia congênita, valvulopatias, miocardite, aneurisma da aorta, doença arterial e a trombose venosa.
Neste estudo os autores apontam que as DCV, como o ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral, são as principais causas de morte no mundo, particularmente nos países mais desenvolvidos. Portanto, esforços contínuos são necessários para reduzir o risco de DCV na população. Os benefícios da atividade física, sobretudo do exercício aeróbio, já foram bem documentados do ponto de vista da DCV e do risco de mortalidade prematura. Por outro lado, com relação ao treinamento resistido (TR), a maioria dos estudos tem se concentrado na saúde óssea, função física e qualidade de vida em idosos, ou desordens metabólicas, como diabetes mellitus tipo 2.
Os autores destacam uma limitada produção de estudos investigando, diretamente, a associação do treinamento resistido com o risco de DCV, e os estudos atuais apresentam dados inconclusivos. Apesar de alguns estudos com o treinamento resistido com pesos apontarem efeitos favoráveis do aumento da força muscular, como um indicador indireto sobre a saúde cardiovascular e mortalidade, estes resultados não podem informar diretamente às recomendações sobre a prática do exercício. Assim, mais evidências são necessárias para revelarem a associação do TR e saúde cardiovascular relacionada a morbimortalidade, independente do exercício aeróbio, bem como para informar às recomendações sobre TR em populações de risco cardiovascular.
Um dado importante ligado à saúde cardiovascular e discutido pelos autores neste artigo é a questão da obesidade, que normalmente é classificada pelo índice de massa corpórea, e com ênfase no exercício aeróbio para redução do peso corporal total. Com clareza os autores apontam que alguns profissionais da área da saúde, incluindo médicos, acreditam que os benefícios cardiovasculares do exercício aeróbio possam ser mais benéficos quando comparados ao TR, principalmente em virtude da perda de peso corporal total. No entanto, este pensamento é simplista se considerarmos apenas a perda de peso como uma determinante do risco de doenças cardiovasculares, sem levarmos em conta a avaliação da composição corporal como um todo, e outros fatores importantes, por exemplo, o aumento da força e da massa muscular induzidas pelo TR.
Esta pesquisa é um estudo longitudinal e de coorte, e foi conduzido no lendário centro de pesquisas em exercícios aeróbios da clínica do mundialmente conhecido Dr kenneth Cooper em Dallas. Após triagem foram selecionados para o estudo 12.591 participantes entre 18 a 89 anos de idade (±47 anos) de ambos os sexos (21% mulheres) que foram avaliados na clínica no mínimo duas vezes entre os anos de 1987 a 2006. A prática do TR foi avaliada por um questionário de histórico médico autorreferido.
O grupo experimental foi caracterizado por pessoas que praticavam TR com pesos livres ou máquinas, a frequencia semanal de TR e o tempo médio de exercício resistido por sessão foram analisados. Os participantes foram classificados em cinco categorias pela frequência de TR; zero, um, dois, três e quatro ou mais vezes por semana. E quatro categorias por volume total de TR em minutos; 0, 1-59, 60-119 e ≥120 minutos por semana. Um questionário de atividade física foi incluindo para o TR e exercício aeróbio.
Os resultados apresentaram que durante o acompanhamento dos participantes entre 5 e 10 anos na média, ocorreram 205 intercorrências (incluindo morbidades e mortalidades combinadas), e 276 óbitos por todas as causas, respectivamente. Com relação aos individuos que declararam praticar o TR versos o grupo controle (sem o TR), a frequencia semanal média foi de uma a três vezes/semana ou um total de 1 a 59 minutos por semana. Estes dados foram associados a uma redução de 40% a 70% do risco de eventos cardiovasculares totais, independente da prática de exercícios aeróbios! Resultados similares foram observados para a morbidade e mortalidade por todas as causas relacionadas à DCV.
Ademais, não houve acrescimos nestes benefícios para os individuos que realizaram um maior volume de TR, ou seja, maior que quatro vezes por semana ou ≥ 60 minutos/semana. Nas análises estratificadas pelo exercício aeróbio, os indivíduos que realizaram TR entre uma a três vezes/semana ou de 1 a 59 minutos/semana foi associado com menor risco de intercorrências ou morbidade por DCV, independente de cumprirem as diretrizes para a prática de exercícios aeróbios.
As possiveis explicações para os benefícios do TR nas DCV podem incluir melhora da aptidão física, maior energia para as atividades da vida diária e fatores emocionais, embora os autores não tenham uma explicação lógica para não haver beneficios adicionais com um volume maior de TR. Com relação a intensidade, a mesma não foi abordada no estudo, no entanto, os autores citam que o TR de alta intensiade poderia aumentar a rigidez arterial levando a eventos deleteritos subsequentes na DCV. E elevados níveis pressoricos já foram registrados com o TR de alta intensidade, o que poderia provocar efeitos adversos naqueles com hipertensão arterial não-controlada, como por exemplo, um AVC.
O presente estudo, concluiu que a prática de TR mesmo que uma vez por semana ou no mínimo de uma hora por semana, ainda que na ausência de exercícios aeróbios, é capaz de reduzir os riscos de DCV e mortalidade por todas as causas. Assim sendo, profissionais da área da saúde devem incentivar a prática de TR para diminuir a incidência de DCV e possíveis intercorrências causadas pelas DCV. Principalmente para os indivíduos e pacientes que tenham pouco tempo para seguir as diretrizes do exercício aeróbio (5x por semana e 30 minutos/dia), o TR pode ser uma boa alternativa.
* Prof Dr Milton Rocha de Moraes
Grupo de Estudo em Treinamento de Força na Reabilitação e na Saúde
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física
Universidade Católica de Brasília
Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.
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