51  Atividade física em pacientes com artrite reumatóide: revisão de literatura

Comentário: Prof. Dr. José Maria Santarem*

O treinamento resistido é importante para pessoas com artrite reumatóide.

Frank Verhoevena, Nicolas Tordib, Clément Pratia, Céline Demougeotc, Fabienne Mouginb, Daniel Wendlinga. Joint Bone Spine (2015).
Joint Bone Spine (2015)

Os autores levantaram trabalhos catalogados no PubMed sobre atividade física e artrite reumatoide (AR). A justificativa é que essa doença reumatológica parece ter melhor controle com atividade física e também porque apresenta alta ocorrência de morte por doença cardiovascular, cujos fatores de risco estão aumentados nos pacientes.

Um consenso entre as diversas sociedades profissionais é que os efeitos promotores de saúde cardiovascular das atividades mais intensas ocorrem com menor tempo de prática semanal em comparação com as atividades mais suaves. Muitas consideram nas suas recomendações apenas a atividade aeróbica, mas atualmente existe uma tendência para considerar também o treinamento resistido (TR). A musculação tem sido considerada como tendo a eficiência das atividades intensas associada à segurança das atividades suaves.

Os autores, franceses, comentam que as associações francesas para atividade física recomendam exercícios aeróbicos para pessoas com artrite reumatoide, mas pensam que os exercícios resistidos não devem ser negligenciados pelas suas qualidades.

Os resultados do levantamento de literatura científica realizado foram analisados considerando diversos aspectos:

1) Efeitos da AR nos níveis de atividade física.

Diversas formas de medir níveis de atividade física nas populações demonstraram que as pessoas com AR têm índices próximos do sedentarismo. Fadiga e depressão também são mais frequentes nas pessoas com AR. Não se sabe até que ponto a atividade da doença leva aos índices mais elevados de sedentarismo, fadiga e depressão, mas sabe-se que os exercícios físicos podem melhorar esses três parâmetros.

2) Efeitos da atividade física na AR.

Níveis mais altos de atividade física em pessoas com AR parecem influenciar favoravelmente a evolução da doença. Por outro lado, pessoas mais ativas antes do início dos sintomas parecem apresentar doença menos ativa.

Pessoas com AR tendem a apresentar rápida evolução da aterosclerose. A atividade física parece diminuir a progressão da aterosclerose por vários mecanismos: aumento do fluxo sanguíneo, melhora dos mecanismos anti-oxidantes, e maior produção de óxido nítrico endotelial. Um trabalho citado mostra melhora da função endotelial promovida tanto por exercícios aeróbicos como por exercícios resistidos. Os autores não citam o mecanismo mais importante para controle da aterosclerose pela atividade física: a diminuição da inflamação basal devido à produção aumentada de miocinas. Os exercícios resistidos têm sido identificados como os mais eficientes para estimular a produção das citocinas anti-inflamatórias.

Na AR existe uma tendência para a osteoporose, tanto em função da inflamação crônica quanto por conta da pouca atividade física e também por efeito de corticoesteróides. Os exercícios resistidos são os mais eficientes pra estimular o fortalecimento ósseo sem impacto, que é um fator de lesão de difícil controle. Não há consenso sobre o efeito de exercícios frearem ou estimulares o desgaste das articulações comprometidas.

Atividade física na AR tem sido identificada como eficiente para a redução das dores em geral e da sensação de fadiga, com grande benefício para a qualidade de vida das pessoas.

3) Tipos de exercícios.

O treinamento resistido foi considerado eficiente para controle de dores, diminuição de indicadores inflamatórios e melhora da funcionalidade, sem efeitos adversos detectados.

O treinamento aeróbico produziu efeitos semelhantes, mas com aparente menor efeito na inflamação. Yoga, Tai-chi e exercícios na água também tiveram alguns aparentes benefícios.

4) Barreiras para a prática de atividade física na AR.

A falta de informações sobre os benefícios dos exercícios e a sua segurança contribuem muito para os baixos índices de atividade física nas pessoas com AR.

A desinformação dos médicos especialistas também pesa muito, visto que estes são os profissionais com maior poder de persuasão para os pacientes.

5) Fatores para aumentar a aderência.

Entre os mais importantes foram identificados o esclarecimento de médicos e pacientes sobre os benefícios e a segurança dos exercícios.

Outro fator para melhorar a aderência é a supervisão dos exercícios por profissionais da atividade física, cuja atuação aumenta a motivação dos pacientes.

Os autores concluem que a atividade física é importante para as pessoas com artrite reumatoide e que estratégias precisam ser estabelecidas para que aumentar a aderência. Os exercícios resistidos são citados como uma opção, mas em nossa opinião são preferenciais por algumas razões:

1) São os mais eficientes para diminuir o processo inflamatório.

2) São os mais eficientes para melhorar a funcionalidade.

3) São os mais eficientes para fortalecer músculos e ossos

4) Podem ser adaptados para as situações de dores em qualquer articulação.

5) Podem ser dirigidos para articulações preservadas com maior intensidade.

6) Não produzem desconforto respiratório e apresentam alta aderência.

7) São comprovadamente eficientes para promover saúde cardiovascular.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

 

Comentários: José Maria Santarem