69  Treinamento Resistido, Isolado ou em Combinação com Exercícios Aérobicos e Obesidade em Dallas, Texas, USA. Um Estudo Prospectivo de Coorte.

Comentário: Prof. Dr. José Maria Santarem*

Acompanhamento de 11.932 pessoas por seis anos: musculação é mais eficiente para emagrecimento do que exercícios aeróbicos.

Artigo original:

Resistance exercise, alone and in combination with aerobic exercise, and obesity in Dallas, Texas, US:

A prospective cohort study

Angelique G. Brellenthin, Duck-chul Lee, Jason A. Bennie, Xuemei Sui, Steven N. Blair

PLOS Medicine | https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1003687 June 23, 2021

Com o objetivo de avaliar os efeitos dos exercícios resistidos na prevenção da obesidade, 11.932 pessoas adultas, homens e mulheres, com idades entre 18 e 89 anos, foram acompanhadas por seis anos, em um período de 18 anos.

Como se sabe, um estudo de coorte é um estudo de observação longitudinal prospectivo, onde não ocorrem intervenções do pesquisador. Assim sendo, foram separadas as pessoas não obesas sedentárias, as que praticavam apenas exercícios resistidos, as que praticavam apenas exercícios aeróbicos e as que praticavam ambas as atividades.

A obesidade foi definida pelo Índice de Massa Corporal (IMC) ≥ 30 Kg/m2, pela Circunferência da Cintura (CC) ≥ 102/88 cm (homens/mulheres) e pela Porcentagem de Gordura Corporal (PGC) ≥ 25%/30% (homens/mulheres). O IMC pode indicar obesidade quando na realidade a pessoa é musculosa. A CC é um pouco mais confiável na avaliação da obesidade, mas a PGC é a melhor forma de avaliação por medir diretamente a massa adiposa.

Neste estudo as pessoas foram consideradas sedentárias quando não atingiam o mínimo de exercícios aeróbicos por semana (acumulado aproximado de três horas de atividade de baixa/média intensidade (cerca de 3 METs) e nem o mínimo de exercícios resistidos (de uma a duas horas semanais no somatório de duas sessões). Esse nível de corte entre sedentários e ativos corresponde a aproximadamente 600 calorias semanais.

Ao final do período de observação várias pessoas se tornaram obesas. Considerando apenas a PGC, as pessoas que praticaram exercícios aeróbicos apresentaram 18% menor risco de obesidade; as que praticaram apenas exercícios resistidos, 34%; as que praticaram ambos os exercícios 43%.

Os dados são muito claros: quem praticou apenas exercícios resistidos teve o risco de obesidade muito menor em relação à quem praticou apenas exercícios aeróbicos, e quase tanto quanto quem praticou ambas as formas de exercícios.

Embora os exercícios aeróbicos gastem em média mais calorias do que os resistidos, outros fatores são importantes para explicar os resultados do trabalho:

1) Os exercícios resistidos tendem a aumentar a massa muscular e isso aumenta o metabolismo basal (as calorias gastas para manter a vida), aumentando assim o gasto calórico em repouso.

2) Os exercícios resistidos aumentam o gasto calórico pós exercício por até 24 horas, independente da massa muscular, provavelmente devido à atividade metabólica para reposição de substratos energéticos como o glicogênio e os triglicerídeos intra-musculares.

3) Os exercícios resistidos estimulam de forma muito eficiente a produção de miocinas pelos músculos, sendo algumas delas potentes promotores de lipólise.

As conclusões desse trabalho são muito importantes porque muitas vezes as pessoas que desejam emagrecer são orientadas no sentido de que os exercícios aeróbicos são indispensáveis.  Os dados mostram que isso não é verdade, embora associar exercícios aeróbicos e resistidos pareça ser a conduta mais eficiente. Do ponto de vista do emagrecimento, fazer apenas exercícios resistidos é quase tão eficiente quanto fazer as duas atividades.

Quando a pessoa não gosta de exercícios aeróbicos ou não consegue fazer esse tipo de atividade física em função de dores articulares ou desconforto cardiorrespiratório devido a doenças crônicas e fragilidade geral, não há razão para achar que não vai conseguir reduzir a gordura corporal.

Atualmente sabemos que para evitar doenças crônicas em geral, incluindo as cardiovasculares, os exercícios resistidos isoladamente são tão ou mais eficientes do que os exercícios aeróbicos. Esse trabalho confirma outras evidências no sentido de que também para redução de gordura corporal os exercícios resistidos são mais eficientes do que os exercícios aeróbicos.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

Comentários: José Maria Santarem