48  Efeitos do treinamento resistido no fígado gorduroso não alcoólico: um estudo clínico controlado e randomizado

Comentário: Prof. Dr. José Maria Santarem*

O treinamento resistido é eficiente para reduzir infiltração gordurosa do fígado.

Shira Zelber-Sagi, Assaf Buch,Hanny Yeshua, Nahum Vaisman,Muriel Webb,Gil Harari,Ofer Kis, Naomi Fliss-Isakov, Elena Izkhakov, Zamir Halpern, Erwin Santo,Ran Oren, Oren Shibolet, 2015.
World J Gastroenterol2014 April 21; 2015: 4382-4392.

A infiltração gordurosa do fígado, também denominada esteatose hepática, pode ser secundária a alcoolismo ou hepatite infecciosa. A esteatose hepática não secundária à essas situações (EHNS) é uma ocorrência relativamente comum, afetando cerca de 20% da população geral e 70% dos obesos. Cerca de 20% dos casos de EHNS evoluem para a cirrose, doença grave potencialmente fatal. A reversão da EHNS depende de mudanças nos hábitos de vida, incluindo atividade física, boa nutrição e perda de peso.

Os autores deste trabalho comentam que a recomendação tradicional de atividade física para pessoas com EHNS são os exercícios aeróbicos. No entanto, comentam também os autores, pessoas sedentárias que não têm o hábito de exercícios costumam apresentar baixa aderência aos exercícios aeróbicos principalmente em função da sensação de fadiga. Por outro lado, o texto informa que revisões bibliográficas indicam que os exercícios resistidos são tão eficientes quanto os aeróbicos para reduzir gordura hepática e apresentam melhor aderência mesmo em populações idosas ou debilitadas. A razão da melhor aderência é a menor sensação de fadiga devido ao caráter intervalado dos exercícios. Os autores citam que além disso, os exercícios resistidos são eficientes para promover saúde cardiovascular e para evitar quedas, sendo também seguros e bem aceitos nos casos de doença coronariana.

O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do treinamento resistido (TR) sobre a gordura hepática em pessoas não alcoólatras e não portadoras de hepatite infecciosa, e também os efeitos na composição corporal, nas enzimas hepáticas e em parâmetros metabólicos.

Inicialmente 82 pessoas sedentárias com idades entre 20 e 65 anos (46 ± 10) portadoras de EHNS foram selecionadas para participar do estudo, sendo 50% da amostra homens e 50% mulheres. Entre os critérios de exclusão estavam qualquer tipo de doença crônica, incluindo diabetes, e o uso habitual de qualquer medicamento. Metade da amostra foi sorteada para realizar TR e a outra metade para realizar exercícios de alongamento (grupo controle) durante três meses com três sessões semanais de 40 minutos. Todos os pacientes foram orientados a não mudar seus hábitos alimentares. Oito pacientes foram excluídos do trabalho: cinco por apresentarem aumento excessivo de peso corporal (indicativo de alimentação não controlada), dois do grupo TR devido a dores em joelhos e ombros, e um no grupo de alongamento devido a dor lombar.

O treinamento consistiu nos seguintes exercícios: press peitoral, remada sentada, puxada alta, desenvolvimento, rosca direta, leg press, extensões e flexões de joelho. Os exercícios foram realizados em três séries de 8 a 12 repetições com descanso entre um e dois minutos entre séries. As cargas foram progressivas nas séries e aumentadas sempre que mais repetições puderam ser realizadas nas séries mais pesadas. Exercícios aeróbicos não foram realizados nas sessões e as pessoas não fizeram outras formas de atividade física paralelas. O grupo controle utilizou oito exercícios de alongamento estático para os principais grupos musculares, sendo cada exercício realizado em 4 repetições com 20 segundos de duração.

Avaliações da composição corporal por DEXA (Dual Energy X-ray Absorptiometry) foram realizadas no início e ao final do período de três meses de treinamento, assim como coleta de sangue e medidas de força máxima (1 RM – repetição máxima) nos exercícios de press peitoral e leg press. A quantificação da gordura hepática foi realizada nas mesmas oportunidades utilizando técnicas de ultra-som validadas com relação à biópsia de fígado.

A gordura hepática reduziu 11% no grupo experimental e 3,5% no grupo controle, sendo a diferença significante (P=0,017).

O grupo experimental apresentou uma pequena redução no peso corporal, reduções significantes de massa adiposa e aumentos significantes de massa magra.

A força muscular aumentou no grupo experimental em cerca de 35% no leg press e em cerca de 60% no press peitoral.

Entre os parâmetros bioquímicos avaliados ocorreu apenas redução significante do colesterol total e da ferritina (indicador de inflamação) no grupo experimental.

Os autores comentam na discussão do trabalho que reduções de gordura hepética da ordem de 21 a 35% já foram demonstradas para exercícios aeróbicos intensos como ciclismo, mas apenas reduções próximas de 10% foram identificadas para caminhadas rápidas.

Considerando que a maioria das pessoas sedentárias não têm aptidão e saúde para exercícios aeróbicos intensos e que a aderência é baixa mesmo para exercícios aeróbicos menos intensos, o treinamento resistido parece ser uma boa alternativa de atividade física para pessoas com esteatose hepática não secundária a alcoolismo ou hepatite. Os demais benefícios do TR para a saúde geral, composição corporal e funcionalidade reforçam a sua indicação.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

 

Comentários: José Maria Santarem