40  Estímulo Mecânico e Saúde Óssea  Quais as Evidências?

Comentário: Prof. Dr. José Maria Santarem*

Trabalhos recentes mostram que os exercícios resistidos são os mais eficientes para fortalecer os ossos, mesmo quando não ocorre aumento da densidade mineral óssea.

Angela M. Cheung e Lora Giangregorio; 2012.
Department of Kinesiology, University of Waterloo, Waterloo, Ontario, Canada.
www.co-rheumatology.com / Volume 24 _ Number 5 _ September 2012

Um comentário inicial dos autores é que uma das classes de medicamentos mais utilizados para tratamento da osteoporose e da osteopenia (bifosfonatos) vem tendo o seu uso questionado devido à documentação de efeitos colaterais como osteonecrose de mandíbula e fraturas atípicas. Neste cenário, o melhor conhecimento dos efeitos dos estímulos mecânicos da atividade física sobre o tecido ósseo torna-se relevante, podendo ser os exercícios uma alternativa eficiente e segura como tratamento e prevenção da osteoporose. A antiga “Lei de Wolff”, muito considerada na ortopedia, é citada como base para a consideração dos exercícios como tratamento da osteoporose: “os ossos se adaptam em forma e função às sobrecargas que lhes são impostas”.

Novas evidências sobre o metabolismo ósseo identificaram que um importante sinalizador para a síntese de osteoblastos conhecido pela sigla “Wnt” pode ser inibido por uma proteína produzida pelos osteócitos e denominada “esclerostina”. Substâncias que possam antagonizar a ação dessa proteína podem potencialmente favorecer a produção de osteoblastos e estão sendo estudadas. Alguns estudos de observação transversal indicam que os níveis de esclerostina aumentam com a idade, porem aumentam menos nas pessoas mais fisicamente ativas. Uma hipótese decorrente é que os exercícios físicos possam funcionar como antagonistas de esclerostina.

Estudos longitudinais prospectivos de observação populacional têm sistematicamente identificado que as pessoas mais ativas apresentam maior densidade óssea avaliada pelo DEXA (aparelho habitualmente utilizado para a determinação da massa óssea). Revisões de estudos experimentais controlados e randomizados também com avaliações por DEXA têm mostrado resultados favoráveis à utilização de exercícios para aumento de massa óssea, sendo os exercícios resistidos os mais eficientes.

Exercícios como correr, saltar e dança mostraram-se eficientes para aumentar a massa óssea nos quadris, mas não na coluna vertebral; exercícios como caminhadas e Tai-Chi foram eficientes para aumentar a massa óssea na coluna, mas não nos quadris; exercícios resistidos com cargas elevadas foram eficientes para aumentar a massa óssea tanto na coluna quanto nos quadris; exercícios resistidos com baixa carga e altas repetições não foram eficientes.

Um aspecto cada vez mais valorizado nos estudos recentes é que a massa óssea é apenas uma das formas de avaliar a estrutura óssea e pode avaliar mal o efeito dos exercícios. O tamanho, a forma e a estrutura dos ossos, bem como as propriedades mecânicas do colágeno, são parâmetros não avaliados pelo DEXA.
Estudos com novas técnicas de avaliação mostraram que as pessoas mais ativas têm melhores indicadores de resistência estrutural óssea e que esta é diretamente proporcional à força muscular. Esses resultados sugerem que os exercícios de força muscular são os mais eficientes para fortalecer também os ossos, independente da massa óssea.

Trabalhos que tiveram as fraturas ósseas como desfecho não foram muito conclusivos visto que muitas das atividades avaliadas em estudos de observação aumentam o risco de quedas e suas consequências. Exercícios de equilíbrio parecem ser eficientes para diminuir o risco de quedas. Plataformas de vibrações como intervenção terapêutica para osteopenia e osteoporose foram muito estudadas, mas não mostraram efeitos importantes em pessoas adultas.

Como conclusão os autores afirmam que os exercícios mais eficientes para fortalecer os ossos de mulheres na pós-menopausa são os exercícios resistidos, mas não se devem esperar aumentos importantes de densidade mineral óssea.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

 

Comentários: José Maria Santarem