23  Volume alto com baixa carga estimula mais a síntese proteica do que baixo volume com alta carga no exercício resistido em homens jovens.

Comentário: Prof. Dr. José Maria Santarem*

Trabalho demonstrando alguma especificidade de variáveis do treinamento na síntese proteica miofibrilar e sarcoplasmática – sem aplicações práticas.

Nicholas A. Burd, Daniel W. D. West, Aaron W. Staples, Philip J. Atherton, Jeff M. Baker, Daniel R. Moore, Andrew M. Holwerda, Gianni Parise, Michael J. Rennie, Steven K. Baker, Stuart M. Phillips; 2010
Exercise Metabolism Research Group, Department of Kinesiology, McMaster University, Hamilton, Ontario, Canada, 2 School of Graduate Entry Medicine and Health, City Hospital, University of Nottingham, Derby, United Kingdom, 3 Department of Medical Physics and Applied Radiation Sciences, McMaster University, Hamilton, Ontario,Canada, 4 Department of Neurology, Michael G. DeGroote School of Medicine, McMaster University, Hamilton, Ontario, Canada

Os autores iniciam citando que tradicionalmente se recomendam programas de treinamento resistido com cargas altas (acima de 70% de 1RM) para estimular o aumento da massa muscular. Citando trabalho recente, comentam que já foi demonstrado que 60% de 1RM já é suficiente para induzir a máxima síntese de proteína miofibrilar pós-exercício. Também é citado trabalho que demonstra a mesma síntese protéica pós-exercício nas situações de 20% de 1RM com oclusão vascular e o treinamento convencional com cargas mais altas. Os autores também comentam que os trabalhos disponíveis sugerem que resultados semelhantes em ativação das fibras musculares e ganhos de massa magra podem ser conseguidos na situação de cargas altas com baixas repetições e na situação de cargas menores com repetições mais altas, desde que os movimentos sejam realizados até próximo da falência muscular.

O presente trabalho teve o objetivo de avaliar a síntese de proteínas miofibrilares e sarcoplasmáticas (basicamente mitocôndrias) nas situações de 4 horas e 24 horas após exercício agudo de extensão de joelho unilateral. Para tanto foram realizadas infusões de marcadores bioquímicos previamente aos exercícios e biópsias do músculo quadríceps foram realizadas no pós-exercício para a análise de indicadores de ativação gênica e de síntese proteica. Quinze homens jovens foram selecionados de acordo com critérios de inclusão e de exclusão e realizaram testes de carga máxima na extensão de joelhos. Em uma das pernas foram realizados 4 séries de repetições até a fadiga com 90% de 1RM e na outra ocorreram duas situações: alguns voluntários fizeram 4 séries de repetições até a fadiga com 30% de 1RM, enquanto que outros fizeram em cada uma das quatro séries o número de repetições necessário para completar o trabalho total das séries mais pesadas (carga x repetições), não chegando próximo da falência muscular.

A síntese de proteínas após exercício com 30% de 1RM não levadas até próximo da fadiga foi menor do que nas outras situações, em todos os intervalos de tempo medidos. Após 4 horas do exercício, nas séries levadas até próximo da fadiga tanto com 90% de 1RM quanto com 30% de 1RM mostraram elevações semelhantes nos níveis de síntese proteica miofibrilar. Após 24 horas, a síntese de proteína miofibrilar foi maior nas series com 30% de 1RM.

Esses dados sugerem que o número de fibras ativadas foi maior nas séries com 30% de 1RM do que nas séries com 90% de 1RM. Se isso ocorreu, á luz da literatura pode-se especular que com cargas maiores consegue-se ativar mais fibras brancas, mas em detrimento da ativação de fibras vermelhas. Com cargas menores pode ter aumentado a ativação das fibras vermelhas, em associação com as brancas, estas talvez em número menor. Os dados também sugerem que levar as repetições até próximo da fadiga é um indicativo de que o maior número de fibras possível está sendo ativado.

A literatura sugere que graus semelhantes de hipertrofia podem ser obtidos com cargas maiores ou menores, desde que os movimentos sejam realizados até próximo da falência muscular.

A síntese de proteínas sarcoplasmáticas após 4 horas do exercício foi semelhante com 90% de 1 RM e com 30% de 1RM, mas após 24 horas, foi maior com 30% de 1RM. Isso confirma a esperada maior ativação do metabolismo aeróbio nas repetições mais altas.

Assumindo que a síntese protéica maior seja um indicador de melhores resultados do treinamento, os autores comentam que os resultados esperados em ganhos de massa muscular sejam semelhantes com a utilização de cargas maiores com volumes menores e com a utilização de cargas menores e volumes maiores. Se houver superioridade de uma das abordagens, deve ser em favor da utilização de cargas menores com volumes maiores. Os autores também comentam a limitação de estudos bioquímicos para predizer os resultados do treinamento, sendo o desfecho diteto (medida comparativa dos ganhos) sempre a abordagem mais confiável.

Concordamos com os autores na interpretação dos resultados e chamamos a atenção de que não há evidência de muita diferença nos resultados esperados com as duas abordagens propostas, embora o título do trabalho sugira o contrário. O que seria interessante seria o estudo de cargas intermediárias entre as estudadas (60 à 80% de 1 RM), o que seria mais reprodutível da prática do treinamento resistido. Uma especulação é que a síntese proteica poderia ser maior do que a observada neste estudo, nos dois intervalos de tempo estudados.

Aspecto importante é que quando os autores se referem a volumes maiores com cargas menores, estão se referindo ao maior número de repetições conseguidas, mas com o mesmo número de séries. A literatura sugere que um maior volume de treino conseguido com maior número de séries, de exercícios e de freqüência semanal costuma ser contraproducente devido ao estímulo de fatores catabólicos.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

 

Comentários: José Maria Santarem