Profª. Esp. Hélena Dalla Bernardina

“A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada com um dano tecidual real ou potencial ” segundo a IASP ( Associação Internacional para o estudo da dor). Embora incômoda e desagradável, a dor desempenha uma função biológica para manter a integridade da vida do indivíduo, contribuindo para a preservação da espécie. Em uma abordagem ampla, existem dois tipos de dor: a dor aguda e a dor crônica. A dor aguda pode durar dias ou semanas sendo um alerta de lesão tecidual que pode causar estímulos nocivos em estruturas somáticas (ex. músculos) ou viscerais podendo gerar ansiedade no indivíduo que a sente pois muitas vezes a causa da dor não é diagnosticada.

Já a dor crônica pode persistir por semanas, meses ou anos gerando sensações que podem se tornar um processo patológico. Não tem função biológica protetora, pode causar patologias crônicas, disfunção do sistema nervoso, fenômenos psicopatológicos levando a depressão. Sabe se que 1/3 população brasileira sofre de dor crônica, considerado hoje um problema de saúde pública, pois ocorrem muitos afastamentos do trabalho. Por esse motivo, pelo código internacional de doenças ela é classificada pelo CID R52 ou seja a dor crônica é considerada uma doença. No mecanismo da dor os estímulos sensoriais (trauma, dor ao toque, dor aguda) transformam- se em estimulo elétrico que corre até a parte posterior da medula espinal. Nessa região um grupo de neurônios leva o estímulo para o córtex cerebral, área responsável pela cognição e emoções região onde a dor será percebida e interpretada. Na dor crônica ocorre um desajuste na liberação de neurotransmissores (ex: endorfina, serotonina), que são responsáveis pelo sistema inibitório da dor .

Tudo começa pelo estimulo que causa a dor, a dor é percebida gerando sofrimento que muitas vezes o próprio comportamento e o ambiente em que a pessoa vive tem grande influência se a dor vai se tornar crônica ou não. As principais causas de dor crônica ocorrem por trauma, doenças, sedentarismo e envelhecimento. Nos traumas ocorrem as contusões, lesões musculares e ligamentares e as fraturas. Entre as doenças ocorrem o câncer, neuropatias, artrites e artroses entre outras. Já no sedentarismo que não é muito diferente do envelhecimento temos perda de massa muscular e óssea além dos processos de enfraquecimento das estruturas articulares e diminuição da aptidão física, com isso aumenta a chance de desenvolvermos dor crônica. Existem vários tratamentos na dor crônica, podemos tratar através de medicamentos como analgésicos, corticoides, anti-inflamatórios e antidepressivos.

Uma outra forma de tratamento é a fisioterapia que pode ser através de: Terapias de calor que aumentam o fluxo sanguíneo e o metabolismo local, diminuem a rigidez muscular , otimizam a liberação e ação das endorfinas, o frio (gelo) que ajuda a reduzir o fluxo sanguíneo local, edema e velocidade de condução nervosa lembrando que é contra indicado nos casos de doenças vasculares periféricas, a eletroestimulação (TENS) que ajuda a ativar o sistema supressor da dor, estimula a analgesia e melhora circulação local. Além desses tratamentos na fisioterapia existe a cinesioterapia que fortalece a musculatura, melhora a circulação local e global, preserva e aumenta a amplitude do movimento e previne as complicações do imobilismo e a mecanoterapia que tem os mesmos efeitos da cinesioterapia mas requer o uso de aparelhos, podendo ser chamada de musculação terapêutica. Esse último tratamento tem sido muito recomendado no manejo da dor crônica.

Outros terapias que podem auxiliar no tratamento da dor crônica são as terapias manuais, a acupuntura e a psicoterapia. Sabe se que o indivíduo que sente dores, não tem motivação para iniciar um programa de exercícios físicos, por isso a importância de uma equipe multidisciplinar estar envolvida no tratamento. Embora seja difícil persistir em fazer exercícios quando sentimos dor sabemos que a “contração muscular produz remédio” segundo Dr. José Maria Santarem médico fisiatra, reumatologista e Diretor do Instituto Biodelta. Essa informação nos faz entender que quando contraímos nossos músculos liberamos substâncias que agem na dor ou seja ficar parado colabora para que a dor piore, muitas vezes o médico pode mediar qual será o momento certo para que o exercício seja retomado caso a dor persista com intensidade. O ideal é iniciar os exercícios com bastante cuidado para evitar desconforto nos músculos e articulações, em muitos casos poucos exercícios já são suficientes para começar aparecer os primeiros sinais de melhora.

Um bom programa seria iniciar com exercícios resistidos para o corpo todo, começando com press peitoral para fortalecer o músculo peitoral , remada para fortalecer os músculos das costas, leg press para os músculos da coxa, flexões de gêmeos para os músculos da perna e abdominais. Iniciar com 3 séries de 8 a 12 repetições para cada grupamento muscular, alternando os dias de 2 a 3 vezes por semana. As cargas e as repetições devem ser controladas sempre respeitando o limite individual.

Músculos fortes ajudam a estabilizar e proteger as articulações, melhoram a capacidade do indivíduo em realizar suas atividades de vida diária, o equilíbrio, a força e a flexibilidade. Esses efeitos além de melhorar a qualidade de vida, restabelece uma autonomia muitas vezes perdida no processo de envelhecimento, no sedentarismo e no indivíduo que tem dor crônica. O que nos chama atenção é que antes pessoas com dores fortes e incapacitantes geradas por doenças ou fragilidades não podiam e nem deviam fazer nenhum tipo exercício. Hoje as pessoas procuram por exercícios resistidos “musculação” para tratar dores e doenças. A experiência no Instituto Biodelta com musculação terapêutica tem nos mostrado que exercícios controlados e adaptados não só favorecem a diminuição das dores, como também, podem reintegrar o indivíduo à vida.

*Hélena Dalla Bernardina é coordenadora do Instituto Biodelta. Possui graduação em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (2001). Especialização em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido pela Universidade de São Paulo (2002). 14 anos de experiência prática de pessoas idosas e debilitadas. Professora do curso de especialização do Instituto Biodelta, em parceria com a EEP – Hospital das Clínicas – Faculdade de Medicina da USP.